eu escrevo coisas que a solidão me sussurra.
e escrevo torto e de propósito
para que ela desista de mim
e escreva por si só.
terça-feira, dezembro 9
sábado, dezembro 6
. estar lá .
juliana sempre teve um porto seguro: joão. toda vez que se sentia mal ou que a vida lhe dava uma rasteira, o apartamento 23 de um prédio na rua lisbonera era um lugar para se estar. joão sempre lhe abriu a porta e cada vez que ia havia chás e essências diferentes.
que lembrasse um cheiro nunca se repetiu e não se lembrava de ter ido sem que tivesse motivo de tristeza.
até que hoje, depois de pensar em seus falidos amores, foi ter com joão. mas ele não estava mais lá. havia se mudado.
foi então que percebeu que seu porto era o coração de joão. e pior que enfrentar tempestades é não ter para onde voltar.
que lembrasse um cheiro nunca se repetiu e não se lembrava de ter ido sem que tivesse motivo de tristeza.
até que hoje, depois de pensar em seus falidos amores, foi ter com joão. mas ele não estava mais lá. havia se mudado.
foi então que percebeu que seu porto era o coração de joão. e pior que enfrentar tempestades é não ter para onde voltar.
segunda-feira, dezembro 1
madrugada
era madrugada, estava inquieto. fui para sala porque podia-se ver a rua. deserta e cheia de silêncio. observei as luzes dos postes, inúteis.
ela veio do quarto, sonolenta. não disse nada, esperou que eu falasse.
-- olhe estes postes, inúteis, para que iluminam tanto?
-- te trouxeram até a sala, te levaram de mim, já é alguma coisa, não?
ela veio do quarto, sonolenta. não disse nada, esperou que eu falasse.
-- olhe estes postes, inúteis, para que iluminam tanto?
-- te trouxeram até a sala, te levaram de mim, já é alguma coisa, não?
domingo, novembro 23
seus olhos
esse seu olho é um labirinto sem paredes.
a gente se perde e não quer mais se encontrar.
sem referência se enxergo ou sou visto.
é como se reiventasse a imensidão do mar.
a gente se perde e não quer mais se encontrar.
sem referência se enxergo ou sou visto.
é como se reiventasse a imensidão do mar.
quarta-feira, novembro 19
Mia Couto
"Afinal, os homens também são lentos países. E onde se pensa haver carne e sangue há raiz e pedra. Outras vezes, porém, os homens são nuvens. Basta o soprar de um vento e eles se desfazem sem vestígios."
"Acreditar é para quem desperta, acreditar é para quem chega. E ele estava de partida, estava fechando a alma com os mesmos cortinados que escureciam a casa dos Sozinhos".
in: Veneno de Deus, remédios do Diabo.
"Acreditar é para quem desperta, acreditar é para quem chega. E ele estava de partida, estava fechando a alma com os mesmos cortinados que escureciam a casa dos Sozinhos".
in: Veneno de Deus, remédios do Diabo.
segunda-feira, novembro 17
sábado, novembro 15
quinta-feira, novembro 13
june sky
as nuvens são as respirações visíveis.
as tempestades, as ofegações.
o céu limpo, prendimento de respiração.
na noite escura,
prendemos a respiração
para ver estrelas.
as tempestades, as ofegações.
o céu limpo, prendimento de respiração.
na noite escura,
prendemos a respiração
para ver estrelas.
casas
ela estava sentada numa dessas cadeiras de plástico e com um cobertor bastante fino mas com desenhos interessantes. há muito estava lá, do lado de fora do portão, deste jeito. os cabelos bagunçados pelo vento natural dos ares e pelo movimento dos carros que embora diminuissem a velocidade pela curiosidade de ver uma menina enrolada em um cobertor sentada em frente a casa, ainda assim eram velocidades para estampidos de vento.
de vezes, focava o olhar em algo na paisagem, ora a esquina que escondia na outra ponta uma grande avenida; ora nas árvores e seus movimentos que pareciam indicar mais precisamente o tempo que o próprio sol. sim, ela tinha consciência de muitas coisas, talvez até da estranheza de alguém estar assim na rua. a vizinhança achava que ela esperava por algo, mas não sabiam dizer o que era tão urgente que não pudesse esperar dentro da casa.
soube mais tarde que ela tivera uma idéia estranha de que todos nós fossemos casa e ela queria saber o sentimento da casa a espera de seu habitante. porque se ela era uma casa que caminhava, a rua era seu caminho. mas se as casas não andam, o que seria a rua para as casas?
dois meses depois, lá estava ela novamente em frente a casa sentada com na cadeira plástica e com o mesmo cobertor. na casa, havia dois pedreiros trocando as janelas por outras maiores e construindo uma chaminé.
de vezes, focava o olhar em algo na paisagem, ora a esquina que escondia na outra ponta uma grande avenida; ora nas árvores e seus movimentos que pareciam indicar mais precisamente o tempo que o próprio sol. sim, ela tinha consciência de muitas coisas, talvez até da estranheza de alguém estar assim na rua. a vizinhança achava que ela esperava por algo, mas não sabiam dizer o que era tão urgente que não pudesse esperar dentro da casa.
soube mais tarde que ela tivera uma idéia estranha de que todos nós fossemos casa e ela queria saber o sentimento da casa a espera de seu habitante. porque se ela era uma casa que caminhava, a rua era seu caminho. mas se as casas não andam, o que seria a rua para as casas?
dois meses depois, lá estava ela novamente em frente a casa sentada com na cadeira plástica e com o mesmo cobertor. na casa, havia dois pedreiros trocando as janelas por outras maiores e construindo uma chaminé.
sábado, novembro 8
o som da poesia - carlos drummond de andrade
para quem gosta de carlos drummond de andrade, a primeira edição de um programa de rádio que estou produzindo.
http://tinyurl.com/6rhg5s
espero que gostem.
http://tinyurl.com/6rhg5s
espero que gostem.
terça-feira, novembro 4
diálogos noturnos
-- ... e você me deixou escapar, hein?
-- nada, você ainda está aqui.
-- ... verdade.
-- nada, você ainda está aqui.
-- ... verdade.
segunda-feira, novembro 3
procura-se
procura-se mariana zanotto, bailarina de leme e hamburgo. há muito tempo perdeu-se contato. quem tiver alguma pista, endereço e razão, favor mandar um email para marcioyonamine@gmail.com .
desde já agradecido.
desde já agradecido.
quinta-feira, outubro 30
longe é uma cidade sem fim
pensei se haveria lente que focasse todo o caminho até chegar em sua cidade.
se era possível ver daqui o que os meridianos esvoaçam dos nossos olhos.
se longe era um estado de ansiedade e perto, um deleite de fim de espera.
perto é uma rua que eu passo todo dia.
se era possível ver daqui o que os meridianos esvoaçam dos nossos olhos.
se longe era um estado de ansiedade e perto, um deleite de fim de espera.
perto é uma rua que eu passo todo dia.
quarta-feira, outubro 29
canção
o dia interrupto gerou uma noite de esquecimento.
lembro-me de seu sorriso através das dobras da pele.
os dentes evitei olhar porque já eram bonitos de função.
queria prestar atenção nos detalhes de além.
seus olhos tem esse horror da claridade
na qual se mergulha sem preço para voltar.
os seus dedos são longo querendo chegar.
se cortasse o cabelo, talvez não precebesse:
longetitude se confunde com infinitude.
e o que vejo em você quero aprender.
como dar palavras ao que se passa aos olhos:
uma canção feita de refração sentimental,
a revelia dos tempos amorosos e cinematográficos.
lembro-me de seu sorriso através das dobras da pele.
os dentes evitei olhar porque já eram bonitos de função.
queria prestar atenção nos detalhes de além.
seus olhos tem esse horror da claridade
na qual se mergulha sem preço para voltar.
os seus dedos são longo querendo chegar.
se cortasse o cabelo, talvez não precebesse:
longetitude se confunde com infinitude.
e o que vejo em você quero aprender.
como dar palavras ao que se passa aos olhos:
uma canção feita de refração sentimental,
a revelia dos tempos amorosos e cinematográficos.
domingo, outubro 5
o passado
perguntam-me por que o passado me atraí tanto. por que os tempos idos, épocas históricas remotas, a paisagem que não existe mais, as fotos em preto e branco fazem parte de meu imaginário. não sei porquê.
talvez porque eu tenha nascido muito tarde, talvez devesse ter nascido em uma época que ser uma história era mais divertido que ser um sentimento.
talvez porque eu tenha nascido muito tarde, talvez devesse ter nascido em uma época que ser uma história era mais divertido que ser um sentimento.
sábado, outubro 4
o navio
há um grande navio que atravessa as ruas, flutuando acima dos postes. é possivel pressenti-lo pelo grave de sua chamada, o calor de suas caldeiras e a frequência da oscilação do ar.
o navio vai ocupando nossos frades e passa entre as paisagens que deixamos de ver. há pressa também no navio, mas não é de chegar.
é de partir.
o navio vai ocupando nossos frades e passa entre as paisagens que deixamos de ver. há pressa também no navio, mas não é de chegar.
é de partir.
eu fiz essa fita do chico
eu fiz essa fita do chico e alguém pode pensar que é mais fácil que o chico fale por nós. porque muitas vezes encontramos em músicas do chico algo que parece bem nos representar tanto o que somos quanto o queremos ser. ou porque as músicas dele contam histórias que ouvimos com gostosura e atenção. são histórias que falam sobre pessoas sentimentais ou que passam por uma situação sentimental. e realmente há qualquer coisa de sentimental em se fazer fitas, há qualquer coisa de contar histórias e deve haver qualquer coisa de atenção.
mas se por um lado é uma fita bacana que eu fiz, por outro, considerei que quem me pediu foi você. então é uma mistura do que eu gosto e do que você poderia gostar. tudo em um único espaço-tempo de 3 minutos e pouco. uma faixa eu pego para mim como a "xote da navegação" que parece que só eu gosto muito. outra eu dou a mão ao mais conhecido e que provavelmente você deve gostar como a divertida "biscate" (a gal costa está demais como a mulher do malandro ou a própria malandra!).
comecei com "meus caros amigos" para que soasse que eu estivesse escrevendo uma carta. fitas tem uma intimidade mais próxima das cartas, acredito. depois vem gal passa sorrisos em notas musicais.
depois vem teresinha. esta canção é para dizer que eu ando achando cantigas de roda, ninar e outras brincadeira, uma coisa linda. no caso do chico, ele é bastante cruel quando pega esse mundo lúdico e coloca sofrimentos adultos. dói e não dói.
"pelas tabelas" parece que não tem fim. como se caíssemos de uma escada com degraus curtos mas que não possuisse corrimãos. chega um momento que fica divertido cair indefinadamente. "a rosa" é uma música divertida que uma amiga me apresentou junto com uma lenda de que haveria uma outra letra mais picante. "futuros amantes" traz um verso que parece bufada de paciência: "não se afobe não que nada é para já".
"bancarrota blues" também é divertida pelo refrão de que tudo se pode vender até o que a gente acha que não tem preço. temos um temor de que talvez tudo tenha seu preço, de que pertençamos a uma lógica do capital. acho divertido que possamos brincar com as palavras assim. penso melhor o que é importante e o que vale. do preço, esqueço.
vem então o "xote da navegação" que é quase um clipe do michel gondry. o sonho se confundindo com a realidade. será possivel confundir a poesia a ponto de que ela comecesse também a tornar forma na realidade? é como se devolvêssemos poesia de onde tiramos.
"o caderno" sempre me dá vontade de chorar, mas um choro tímido das coisas que passam. como se pede a alguém que não nos esqueça porque simplesmente deixamos de existir um pouco? acho corajoso.
por fim o samba do grande amor que sempre me fez dignidade em qualquer tipo de amor.
quando a fita acabar, diga-me o que achou. nem tanto do chico que precisa pouco para gostar, mas da ordem e das escolhas. faltar sempre falta e talvez por isso que façamos como essa de gravar fitas.
sexta-feira, outubro 3
casa da palavra
ela era poetisa e se apaixonou por manuel que era escritor de contos. foi um encontro feliz, em uma fila de cinema de um filme que ambos negariam que haviam ido assistir. melinda usava flores no cabelo que provavelmente tinham sido colhidas de um quintal de condomínio alheio. ele anotava nervosamente o caminho que um personagem seu deveria tomar antes que decidisse pelos trópicos ou pela ventura.
quando se viram foi numa perspectiva das realidades das palavras. os olhos de melinda eram advérbios. os dedos de manuel eram conjugados em tempos que não foram descobertos. lembro-me dos dois, perdidos na cidades, cheios de desastres e sem saber encarar as pessoas que não os encaravam. mas entre si inventavam outras gramáticas, respeitaram apenas a ortografia porque era coisa para as próximas gerações subverterem.
foi com certo nervosismo que soube do rompimento de ambos. fico pensando onde estariam nas palavras a condição de que o tempo passa, o amor recua, a vida não está mais nas entrelinhas para ser a própria linha. também não sei se é algo passageiro como nos tempos terapeuticos para reflexão e conhecimentos. manuel mudou-se para o sul. melinda trabalha em escritório divertido.
ela me ligou hoje. falamos de amenidades e perguntou com pequeno desdém sobre manuel. eu disse que sabia muito pouco e que provavelmente ligaria para ele depois. então me pediu que o avisasse que uma carta chegaria como todas as bagagens e que era hora de voltar para casa.
quando se viram foi numa perspectiva das realidades das palavras. os olhos de melinda eram advérbios. os dedos de manuel eram conjugados em tempos que não foram descobertos. lembro-me dos dois, perdidos na cidades, cheios de desastres e sem saber encarar as pessoas que não os encaravam. mas entre si inventavam outras gramáticas, respeitaram apenas a ortografia porque era coisa para as próximas gerações subverterem.
foi com certo nervosismo que soube do rompimento de ambos. fico pensando onde estariam nas palavras a condição de que o tempo passa, o amor recua, a vida não está mais nas entrelinhas para ser a própria linha. também não sei se é algo passageiro como nos tempos terapeuticos para reflexão e conhecimentos. manuel mudou-se para o sul. melinda trabalha em escritório divertido.
ela me ligou hoje. falamos de amenidades e perguntou com pequeno desdém sobre manuel. eu disse que sabia muito pouco e que provavelmente ligaria para ele depois. então me pediu que o avisasse que uma carta chegaria como todas as bagagens e que era hora de voltar para casa.
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