sexta-feira, outubro 3

casa da palavra

ela era poetisa e se apaixonou por manuel que era escritor de contos. foi um encontro feliz, em uma fila de cinema de um filme que ambos negariam que haviam ido assistir. melinda usava flores no cabelo que provavelmente tinham sido colhidas de um quintal de condomínio alheio. ele anotava nervosamente o caminho que um personagem seu deveria tomar antes que decidisse pelos trópicos ou pela ventura.

quando se viram foi numa perspectiva das realidades das palavras. os olhos de melinda eram advérbios. os dedos de manuel eram conjugados em tempos que não foram descobertos. lembro-me dos dois, perdidos na cidades, cheios de desastres e sem saber encarar as pessoas que não os encaravam. mas entre si inventavam outras gramáticas, respeitaram apenas a ortografia porque era coisa para as próximas gerações subverterem.

foi com certo nervosismo que soube do rompimento de ambos. fico pensando onde estariam nas palavras a condição de que o tempo passa, o amor recua, a vida não está mais nas entrelinhas para ser a própria linha. também não sei se é algo passageiro como nos tempos terapeuticos para reflexão e conhecimentos. manuel mudou-se para o sul. melinda trabalha em escritório divertido.

ela me ligou hoje. falamos de amenidades e perguntou com pequeno desdém sobre manuel. eu disse que sabia muito pouco e que provavelmente ligaria para ele depois. então me pediu que o avisasse que uma carta chegaria como todas as bagagens e que era hora de voltar para casa.

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