domingo, dezembro 30

. planos para o ano novo .

escrever com mais freqüência por aqui. histórias tenho, mas as palavras... ah, as palavras.

quinta-feira, dezembro 20

. natal .

não é difícil perceber que estamos em época natalina. por todos os lados há as luzes, o consumo e as crianças. há uma confluêcia de amores também.

não sei quantos natais já passei. por um momento, em algum discurso solto na conversa das pessoas, ouço histórias e sentimentos de uma época de tolerância e boa vontade.

é uma época estranha e demasiada humana.

quarta-feira, novembro 21

. pausa para o café .

a pausa para o café está se tornando um dos poucos momentos em que deixo de pensar na correria. o cheiro do café reduz a minha velocidade e esvazia o meu pensamento. a cafeína está se tornando uma droga eficaz da correria.

penso até em sentar em algum lugar e saborear o café. abrir o livro atrasado, tomar notas para um que poderia ser. nas folhas brancas, sem linhas e sem direção, rabiscar qualquer coisa que soe desenho ou palavra. o café me dá motivos para olhar a folha branca com mais atenção ao que não está escrito e deixa que o simples registro se perca.

mas como o tempo, o café acaba.

domingo, novembro 18

. ana .

ana querida,

como vai o rio? foi preciso que você fosse dar uma folga de sampa city para que eu conseguisse escrever. a gente pensa que a geografia vai revelar o quanto somos afastados de quem amamos, mas é o tempo quem mede os oceanos.

hoje comprei um celular novo. aparelho, digo. o velho número continua inalterado. mesmo sabendo que pouca gente me liga, gostei da idéia de ter um aparelho que possa funcionar melhor. vai ser a prestações a perder de vista. lembrei-me dos seus móveis que já devem estar para serem saldados. fiquei pensando que eles eram uma forma de estar compromissado com algo. não que dívidas possam ser uma forma de relacionamento saudável, mas os móveis quitados vão exigir outros para se completar até que se perceba uma casa.

aconteceu outra coisa estranha hoje também. fui para rua resolver alguns projetos e pensei no que poderia ser uma história que só eu pudesse contar. comecei a pensar nas ruas que me agradam, em algumas pessoas que conheci, no sentimento de estrangeiro e fiquei imaginando meu passado. pensei: "acho que a ana nem desconfia que coisas me atormentam, mas deve saber que ela própria é um bem... ou não sabe?".

pois, saiba.

agora preciso acabar um trabalho. aquele mesmo que terá que traduzir. já adianto o quanto é tedioso falar sobre espumas, grãos e sabão em pó. mas a gente discuti isso com uma brahma.

bjs
marcio

segunda-feira, novembro 12

. aurea .

encontrei este texto na página a aurea. nem me lembrava de ter escrito. pareço jovem e provavelmente estava apaixonado. olho para o texto como quem acha bonito o amor novo.

"penso que deve haver muita esperança por aí,
se não por que insistiríamos em escrever histórias infantis? lavar pratos, marcar encontros, produzir roteiros e conhecer novos amigos? por que o bom humor, as canções, o estoque de chocolate, a alternativa de um dia andar na chuva? por que explicar letras de música, ilustrar monólogos, acreditar nas superbaladas? por que o discurso sobre os novos amores, por que o desafio ao medo, a reconciliação com pessoas queridas, planejamento de viagens, mudanças de móveis e letras e acentos? por que guardar coisinhas como bilhetes, cartas, objetos semi-inuteis, memórias, enfim? por que desafiar as correntes, ler e reler e querer ler novamente, aprender softwares, novos estilos e crenças e designs? por que procurar figuras no google, mandar longos emails, manter-se moral? por que esperar pela noite? por que esperar pelo dia?

sim, penso que deve haver muita esperança por aí.
e nos teus olhos, muito mais."

domingo, novembro 11

. beloved .

eu olho para patrícia tentando atravessar seu tempo. não é para ver o tecido se contorcendo em si. muito menos para saber se a sabedoria acumulada lhe tirará a velocidade. olho para além da sua ansiedade de agora, para além das dores e mágoas, projetando uma alegria atravessada.

vejo-a com alguém que lhe ama bastante porque patrícia é uma pessoa bastante amável. mas há algo que a faz perder a estação. na primavera, o inverno. por alguns momentos, ela renomeia alguns objetos e lhes tira as qualidades essênciais. a colcha torna-se um vestido. o lenço, um chapéu. este alguém que lhe ama profundamente a resgata das confusões do tempo e pede para que use corretamente as coisas a fim de que nada a machuque ou que doença a ataque.

mas patrícia ainda pensa no amor. naquele amor prometido em outros tempos. neste tempo em que eu tento olhá-la além. na poesia descoberta em felicidade. aquele que a acompanha e que tanto lhe ama não é o amor. ele não tem o que pode completá-la. ele nunca a conhecerá como o amor havia lhe prometido conhecer.

esta minha visão de patrícia futura é um projeto de presente. talvez ela nem pense neste amor que agora lhe soa tão fundamental. por hoje, ainda acreditará, em controversia, que o amor é essencialmente poética.

e aquele homem que a amaria tão profundamente já estará prometido a uma outra de mesmo nome.

terça-feira, novembro 6

. so tired .

ando meio cansado da vida.
não que haja tanto...
ando meio cansado da pouca vida.

sexta-feira, novembro 2

. zard .

acabei de saber que izumi sakai faleu em maio deste ano. eu nem sabia que o nome dela era esse. a gente não se dá muito conta de quanta coisa não é sabido por falta de qualquer necessidade ou interesse. eu a conheci como zard.

foi a minha curta estadia em yokohama que conheci sua música. nada fora do comum, mas achei bastante sincera. acabei comprando um cd (coisa raríssima já que não curtia música japonesa e estava mais interessado em britpop na época).

pensando agora, acho que izumi foi como uma paixão adolescente. sempre pensei que casaria com alguém assim: uma pessoa forte, mas tímida ao mesmo tempo. com algo que transbordasse um corpo frágil - no caso de izumi, a voz. olhos fugindo do contato, mas que quando encontrassem os meus seriam devastadores.

recebi a notícia com tristeza. seria dessas amigas antigas com a qual gostaria de voltar a ter contato. alguém com que se reencontra e o peso dos anos é pano para muitas noites de conversa. os anos de ausência me soam muitos, embora sempre ouvisse algo nas lojas da liberdade ou mesmo nos animês japoneses (que utilizaram algumas músicas como trilha).

penso no tempo em que a descobri e o quanto me fez companhia sua música. ela falava de solidão e eu achava bonito. o japão é um lugar de solidões bonitas.

. past .

olho no rosto dos meus amigos já há tanto afastados. contextualizá-los em meus novos sentimentos me soa cansativo e tolo. cada um encarna com alguma precisão todas as paixões que já foram minhas. muito provavelmente já estão falando outras línguas e acessando outras contas. ah, sim, os livros que trocamos. um pequeno contrato de lembrança. mas verificamos que nossa suposição foi falha. os livros nos dilaceraram. não há nada de nós em nenhum deles.

mas agora soam tão sinceros essas folhas? por quê?

olho nos olhos dos meus amigos afastados. percebo nas dobras da retina o sinal dos anos. sim, pensei em visitá-los, manter contato. para quê? melhor é guardar o melhor de cada um. como será receber uma rajada de ventania quando já se sabe do que a ventania é capaz? o passado espreita, mas na maioria do tempo é apenas alguém que toma o mesmo ônibus, frequenta os mesmos lugares mas a gente nem se considera vizinho.

os meus amigos afastados sempre moraram tão longe de mim.

segunda-feira, outubro 29

. desejo .

o desejo é um super-herói.
uma espera de salvação
numa ficção de contemplamento.

sábado, outubro 27

. ás naus portuguesas .

gosto quando passam por aqui.
como se navegassem e eu fosse a paisagem.
aqui não há porto,
nem há intenção de um.
mas a terra é boa,
as frutas prevalecem
e a língua desemboca no coração.

sexta-feira, outubro 26

. pergunte ao pó .

sobre o álbum, a camada de pó chega e se acomoda. a capa se deprecia e não consigo ver mais do que se trata. daqui a alguns século, abrirão e suas páginas serão folheadas. o pó resistirá a sair da sua casa que será natural. mas em seu interior haverá intactas as memórias desordenadas e sem sentido esperando que alguém possa dar leitura. e a pessoa mais próxima será o pó.

terça-feira, outubro 16

. longe .

longe é um lugar estranho para se estar.
é de onde os ventos chegam e para onde as pessoas vão.
é o arco do que quero pleno,
é o fim de onde eu comecei.

domingo, outubro 14

precisa-se

de protagonista para vídeos de baixo orçamento mas cheio de invisibilidades. tratar aqui.

. nadia .

os teus músculos desafiam o espaço e o tempo.

quarta-feira, setembro 26

. amanda .

amanda marcou o leito do rio tempo
com pegadas de contracorrência.
mas seus cabelos cresciam a desventura
e se confundiam a nascente e o mar.

segunda-feira, setembro 24

. passing by .

aos poucos, vou me redendo ao tempo.
deixo de pensar nos cabelos que crescem
e presto atenção na pele que se esvai.

as minhas mágoas se transformam em ficção.
penso se os meus amores foram reais
e quanto há de invenção na felicidade íntima.

todos os sorrisos de que me lembro são belos,
só reti os belos de pessoas que nem sempre foram
mas com o tempo sempre serão.

a memória ajuda: se desfaz.

sábado, setembro 22

. fotografias .

para aninha,

vou passando as fotografias.
você começa com um penteado diferente,
mas já teve, há tempos atrás, o cabelo de hoje.
a sua pele sempre foi uma piscina
e seus olhos, uma antena resistente a tempestades.
você não mostra, mas fotografa torto os adeus.

as fotografias mentem photoshops,
o preto-e-branco não deixou de acontecer
o seu coração preto-e-branco.
as cores saturadas é um risinho
de quem deixou o comercial de lado.
você foi capturada pelas fotografias
que deixou de tirar.

você já esteve em tantos lugares.
há tantos céus, luzes de postes,
coisas inanimadas das cidades, roupa de frio.
eu me lembro de uma cinelândia e de um arpoador,
infinitos.
mas o foco... ah, o foco ficou perdido.

sexta-feira, setembro 14

. folhas secas .

esperando por alguém em uma calçada qualquer, fiquei olhando as folhas secas se desprendendo dos galhos e se arremessando ao chão. algumas mais anatômicas alçavam pequenos vôos. outras mais concentradas mergulhavam e se espatifavam.

e aquela armação de galhos sendo revelada me soou alguém que talvez tivesse conhecido, que perdera suas memórias ao sabor das gravidades e dos ventos. mas que resistia com dignidade a cabeleira lúdica dos galhos.

e na solidão de uma calçada qualquer, alguém que viesse ter sombra.

sábado, setembro 8

. capítulo 4 : alikan ::

alikan é o nosso terceiro projeto conjunto. chegou a nós abstrato, pequena massa chorosa e peluda. os olhos trágicos e operísticos, mas as orelhas antenadas ao ambiente. assassina baratas e outros insetos a revelia das consciências, mas conhece o amor.

este sim, é o nosso primeiro projeto comum: o amor. o segundo, joana imprime em cartazes e cola em paredes: uma casa. alikan é quem nos traz de volta quando precisamos fazer compras, pagar impostos, separar o lixo e escolher a marca da comida. é alikan quem determina as naturezas do jardim: há o espaço para brincar e espantalhos em formas esquivas para que não estrague a planta que ainda não é tão planta. no canto ignorado por nós, cresce alecrim que é mato mas não tem as consequências de um. alikan o descobre, pensamos em temperos e molhos.

nesta hora, adotamos alikan como nosso terceiro projeto comum: ele ajudará a descobrir as coisas que nossos sentidos falham. e esperamos que como ele, os dois primeiros projetos deixem nossos corpos e procurem sua própria natureza.

alikan me olha: "esta casa se fechou quando partiu, au. só há uma maneira de estar dentro dela, au". o pelo de alikan se torna mais sedoso e longo. vaii até uma parte da janela na qual há pequenas estruturas - a grade, o esquadro, um pilar de madeira - que eu utilizo para subir no telhado para pegar pipas que caem para devolver aos meninos da rua. alikan sempre latia para quem tenta além de mim.

quarta-feira, setembro 5

. capítulo 3 : a janela .

as cartas me soam como veias abertas. mesmo que em vida nunca sentisse o sangue se sair com tanta agilidade, ao tirar as cartas de seus devido envelopes uma sensação esvaiçamento tomou-me conta. como se uma friagem me tomasse as calorias e a temperatura a baixar fosse sinal de que uma ventania está me levando, está me perdendo.

deito-me no chão do quintal. o muro inútil vai sumindo e se tornando ruina. alguém, em algum tempo prático, achou conveniente que fosse demolido para que entrasse mais um automóvel. vejo a porta de entrada em mancha desfocada. esforço-me: está fechada.

levanto-me com dificuldade. as roupas dos viventes em terra de viventes pesa uma vida. caminho até a porta, acerto: está trancada. penso em atravessá-la, mas primeiro preciso saber se há alguém em casa. vou até a janela.

peço que desperte. e a casa abre seus olhos. todas as janelas se abrem em vacilo primeiro e total despertar depois. a poeira marca as luzes solares. agora o calor da superfície da pele condena o frio das cartas abertas. é um inicio de sentir-se em casa, suponho. mas não consigo entrar.

passo por todas as janelas: a sala, os quartos, o corredor, o banheiro. não consigo penetrar nestas entranhas. o nervosismo me faz ainda mais pressa. não compreendo o segredo para a passagem para dentro. é minha casa ou foi. não há ninguém que se incomode. a casa está abandonada.

a casa está só. ouço um latido: é alikan.

terça-feira, setembro 4

. capitulo 2 : as cartas .

sobre um muro inútil estão depositados algumas cartas. serão as mesmas que deixei quando parti? lembro-me de ter registrado a vontade de ficar e a suposta saudade que teria de tudo e de todos. estão todas elas, organizadas por ordem alfabética do remetente. não são as minhas, enfim. repasso os olhos nas letras e nomes de quem enviaram. e depois, leio o destinatário: sou eu mesmo.

há muito deixei de receber cartas ou qualquer tipo de mensagem com notícias sobre o bem estado. havia um pacto formado em que a falta de notícia era a notícia boa. são as notícias ruins que merecem a concretização das palavras; é o horror que deve ser descrito e informado.

eu fui me tornando uma notícia boa aos poucos. ao ponto de minha desintegração não ser percebida. o esquecimento não é total, fico assim como uma sensação. perco-me na noção de espaço e tempo. hoje resido em algum canto obliquo e pendente das memórias. mas serão más notícias estes papéis então?

os ventos se acalmam. o bloco de cartas que sempre ameaçava cair se estabiliza. penso se tenho o direito de abrir a carta. penso se sou a pessoa a quem haviam destinado as cartas. porque ler aquela notícia não fará diferença já que a minha matéria não interfirá nas decisões dos viventes.

abro, com uma respiração que pensava já ter me abandonado.

é de uma amiga que há muito não nos falamos. avisa-me do nascimento e agora batizado de seu filho. deu um nome parecido com o meu e por isso se lembrou de mim. convida-me para as festividades. vejo a data. muitas semanas, meses, anos.

a respiração que está me voltando traz também a caimbra e o cansaço. sento-me no murinho inútil e vou abrindo todas. abro muitas em um dia, mais que uma vida. vaga pela minha cabeça: saberia ainda escrever para responder? atravessaria a caneta a minha mão?

domingo, setembro 2

. capitulo 1 : a árvore .

sou como um fantasma que volta a velha casa: tento atravessar o que suponho que as paredes tenham me impedido.

já no primeiro embate, uma desvantagem: ao girar a chave do portão, ela se quebra provando que há o perícivel nos metais.

a árvore grande da escola em frente a casa ainda continua lá, ereta e decidida. engaram-se que sua velhice mataria os estudantes. muitos deles passaram e sentem saudades da grandeza, porque eles mesmo não fizeram os seus grandes sonhos. estudei naquela escola onde a árvore já fazia sombra sobre o teto. seus galhos vacilantes já sucumbiram a ventanias. pude, em são paulo, ver as ondas de um mar clorofilado.

pensei em tocar a campainha, mas não havia quem atendesse. atravessei o portão sem dificuldades. é próprio dos que sonham cinema as elipses. eu fiz questão de me apoiar no tempo morto e tornar longo e significativo o atravessar do portão. a velha árvore me recebeu com sombras animadas, cheio de assovios.

naquele momento, não sabia se mantinha a lembrança dos viventes ou se abrigava nas casamata das memórias o olhar saudoso da árvore.