quarta-feira, outubro 28

domingo, outubro 25

tokyo, tokyo

ando sonhando com tokyo.
passos semi-pisados em casa.
ela se faz de desentendida
tal qual pão sem nacionalidade.
todos os pães estão em tokyo.

tokyo é para onde nos desencontramos.
perdemos o eu para tornarmos parte.
sonho o desejo de me perder em tokyo
e em parte te encontrar.
as placas dizem a mais mentirosa verdade.

e teus olhos de estrangeira
reconhecerão em mim o país que também sonhou.
emitiremos os nossos passaportes amorosos
e imigraremos um ao outro.
de tokyo partem os corações que não voltam mais.

ando sonhando com tokyo.
estou prestes a me apaixonar.

sexta-feira, outubro 23

cheiro de chuva

todo cheiro é véspera.

sexta-feira, outubro 16

. terceira pessoa .

encontrei uma pessoa da qual uma amiga me falou bastante. ao me apresentar, ela me perguntou se eu era o marcio dos vídeos. e conversamos assim: como se os amigos comum fosse uma linguagem para perguntar sobre o que foi dito e o que poderia ser.

terça-feira, outubro 13

. passagem para mariana



video novo. saudades novas.

sábado, outubro 10

. o fim da poesia .

entre os vasos de temperos deixados a sorte,
havia um de poesia que resistia tal qual o alecrim.
sua dona, nestes dias de longe,
almoçava muito fora
e voltava muito cansada para jantar.
mas de manhã,
enquanto preparava o café rápido,
sempre via de relance a sombra de seus temperos da janela.
e os lábios rachados da secura do dia
faziam com que pegasse um copinho de água e irrigasse o que restava.

assim a poesia resistia a miséria como lembrança rachada.

terça-feira, outubro 6

. casa de baile .

havia uma noiva e um lago. e havia também águas que bailavam. o vestido não se arrastava e a tiara estava enfeitada com flores outonais. o céu ameaçou cinzas. os peixes, sonhar. os paparazzi perderam a graça com suas máquinas de captura.

e todos esperavam a música.

aproximando-me, eu vi a noiva rodar. pude perceber a armação que dava ao quadril a leveza aparente dos vestidos. os ombros nus. a boca que brilhava e o pó que amenizava a idade. na casa de baile, os convidados venceram seus cansaços.

quando a música parou, o vestido pousou. todos despediam-se e a noiva veio até mim:

- não quis bailar comigo?

- não, eu quis casar com você.

. almoço .

garçon mineiro sensível a solidão
deu-me um desconto no prato.
e sugeriu que pagasse uma bebida
a uma mulher que almoçava também só.

segunda-feira, outubro 5

. poesia amorosa .

ela se apaixonava por poetas porque poesia era tudo que via.

domingo, outubro 4

minas gerais

perdi algo no voo de belo horizonte para cá.

sábado, outubro 3

. oratório de pedintes .

no final do dia, o homem veio recolher a esmola depositada nas gavetas do oratório. um último bom católico chegou as pressas e veio lhe dar algumas moedas. o homem voltou o oratório ao lugar.

-- não precisa, tome aqui.

-- não posso aceitar, ao menos que deposite na gaveta e reze.

o bom católico ficou sem graça e atendeu a liturgia. foi embora desejando um bom-dia. o homem então sentou no seu banco de praça. contou o dinheiro. guardou uma parte para a cachaça e a outra, bem maior, colocou em um envelope e entregou anonimamente a um veterinário para que realizasse castrações de graça.

. passagem para mariana .

através da janela do trem me perdi em tempos obliquos.
o meu reflexo na janela envidraçada me envelhecia.
nas passagens dos tuneis fui transportado em medos deslocados.
as curvas me faziam olhar a máquina que me levava,
nas retas, imaginei que não me restava muita coisa do que já fui.
fitava os barrancos com a supresa de menino que reconhece aos poucos a altura.
o balanço me fez pensar em ter saudades tuas.

então perdi as perspectivas e proporções.
e percebi o quão éramos próximos apesar dos espaços deslocados.
e o quanto não éramos.
fiz meu ombro se acomodar no banco de madeira desconfortável
para ter a melhor posição até o termino da viagem.
pensei em ti algumas vezes e a paisagem foi mudando de cor, saturando.

sinto saudades.
a distância faz a montanha ficar azul.

sexta-feira, outubro 2

o filho e o pai

o pai sonhou em ser engenheiro, advogado, jogador de futebol, artista de cinema e televisão, jornalista, médico, astronauta, delegado, tudo que para que seu filho sonhado fosse grande.

o filho real ficou grande ao descobrir os sonhos do pai e sonhar os próprios para seu próprio filho.

. os noivos .

eles eram noivos, mas de ninguém.

ela tinha este jeito cuidadoso de manter as noticias frescas e preparativos. ele sabia planejar muitos futuros. ela aprendeu com calma os cuidados que a manterão longe de muitos problemas. ele já desistiu das viagens e investiu em documentos. há quem faça para ela um vestido branco, mas simples. ele tem bons amigos para padrinhos.

eles não se conheciam, mas como formavam um casal bonito! alguns amigos comum já pensaram em apresentá-los. mas havia sempre algo terrestre que impedisse. as horas, o trânsito, a indisposição, o fim das relações ou o começo.

mas hoje fez um céu festivamente azul e no flutuar das vivências, alguém resolveu pintá-los encontrados. e eles se casaram e deixaram que retocassem seus noivados.

não sei qual dos dois sorriu e qual chorou.