quarta-feira, novembro 21

. pausa para o café .

a pausa para o café está se tornando um dos poucos momentos em que deixo de pensar na correria. o cheiro do café reduz a minha velocidade e esvazia o meu pensamento. a cafeína está se tornando uma droga eficaz da correria.

penso até em sentar em algum lugar e saborear o café. abrir o livro atrasado, tomar notas para um que poderia ser. nas folhas brancas, sem linhas e sem direção, rabiscar qualquer coisa que soe desenho ou palavra. o café me dá motivos para olhar a folha branca com mais atenção ao que não está escrito e deixa que o simples registro se perca.

mas como o tempo, o café acaba.

domingo, novembro 18

. ana .

ana querida,

como vai o rio? foi preciso que você fosse dar uma folga de sampa city para que eu conseguisse escrever. a gente pensa que a geografia vai revelar o quanto somos afastados de quem amamos, mas é o tempo quem mede os oceanos.

hoje comprei um celular novo. aparelho, digo. o velho número continua inalterado. mesmo sabendo que pouca gente me liga, gostei da idéia de ter um aparelho que possa funcionar melhor. vai ser a prestações a perder de vista. lembrei-me dos seus móveis que já devem estar para serem saldados. fiquei pensando que eles eram uma forma de estar compromissado com algo. não que dívidas possam ser uma forma de relacionamento saudável, mas os móveis quitados vão exigir outros para se completar até que se perceba uma casa.

aconteceu outra coisa estranha hoje também. fui para rua resolver alguns projetos e pensei no que poderia ser uma história que só eu pudesse contar. comecei a pensar nas ruas que me agradam, em algumas pessoas que conheci, no sentimento de estrangeiro e fiquei imaginando meu passado. pensei: "acho que a ana nem desconfia que coisas me atormentam, mas deve saber que ela própria é um bem... ou não sabe?".

pois, saiba.

agora preciso acabar um trabalho. aquele mesmo que terá que traduzir. já adianto o quanto é tedioso falar sobre espumas, grãos e sabão em pó. mas a gente discuti isso com uma brahma.

bjs
marcio

segunda-feira, novembro 12

. aurea .

encontrei este texto na página a aurea. nem me lembrava de ter escrito. pareço jovem e provavelmente estava apaixonado. olho para o texto como quem acha bonito o amor novo.

"penso que deve haver muita esperança por aí,
se não por que insistiríamos em escrever histórias infantis? lavar pratos, marcar encontros, produzir roteiros e conhecer novos amigos? por que o bom humor, as canções, o estoque de chocolate, a alternativa de um dia andar na chuva? por que explicar letras de música, ilustrar monólogos, acreditar nas superbaladas? por que o discurso sobre os novos amores, por que o desafio ao medo, a reconciliação com pessoas queridas, planejamento de viagens, mudanças de móveis e letras e acentos? por que guardar coisinhas como bilhetes, cartas, objetos semi-inuteis, memórias, enfim? por que desafiar as correntes, ler e reler e querer ler novamente, aprender softwares, novos estilos e crenças e designs? por que procurar figuras no google, mandar longos emails, manter-se moral? por que esperar pela noite? por que esperar pelo dia?

sim, penso que deve haver muita esperança por aí.
e nos teus olhos, muito mais."

domingo, novembro 11

. beloved .

eu olho para patrícia tentando atravessar seu tempo. não é para ver o tecido se contorcendo em si. muito menos para saber se a sabedoria acumulada lhe tirará a velocidade. olho para além da sua ansiedade de agora, para além das dores e mágoas, projetando uma alegria atravessada.

vejo-a com alguém que lhe ama bastante porque patrícia é uma pessoa bastante amável. mas há algo que a faz perder a estação. na primavera, o inverno. por alguns momentos, ela renomeia alguns objetos e lhes tira as qualidades essênciais. a colcha torna-se um vestido. o lenço, um chapéu. este alguém que lhe ama profundamente a resgata das confusões do tempo e pede para que use corretamente as coisas a fim de que nada a machuque ou que doença a ataque.

mas patrícia ainda pensa no amor. naquele amor prometido em outros tempos. neste tempo em que eu tento olhá-la além. na poesia descoberta em felicidade. aquele que a acompanha e que tanto lhe ama não é o amor. ele não tem o que pode completá-la. ele nunca a conhecerá como o amor havia lhe prometido conhecer.

esta minha visão de patrícia futura é um projeto de presente. talvez ela nem pense neste amor que agora lhe soa tão fundamental. por hoje, ainda acreditará, em controversia, que o amor é essencialmente poética.

e aquele homem que a amaria tão profundamente já estará prometido a uma outra de mesmo nome.

terça-feira, novembro 6

. so tired .

ando meio cansado da vida.
não que haja tanto...
ando meio cansado da pouca vida.

sexta-feira, novembro 2

. zard .

acabei de saber que izumi sakai faleu em maio deste ano. eu nem sabia que o nome dela era esse. a gente não se dá muito conta de quanta coisa não é sabido por falta de qualquer necessidade ou interesse. eu a conheci como zard.

foi a minha curta estadia em yokohama que conheci sua música. nada fora do comum, mas achei bastante sincera. acabei comprando um cd (coisa raríssima já que não curtia música japonesa e estava mais interessado em britpop na época).

pensando agora, acho que izumi foi como uma paixão adolescente. sempre pensei que casaria com alguém assim: uma pessoa forte, mas tímida ao mesmo tempo. com algo que transbordasse um corpo frágil - no caso de izumi, a voz. olhos fugindo do contato, mas que quando encontrassem os meus seriam devastadores.

recebi a notícia com tristeza. seria dessas amigas antigas com a qual gostaria de voltar a ter contato. alguém com que se reencontra e o peso dos anos é pano para muitas noites de conversa. os anos de ausência me soam muitos, embora sempre ouvisse algo nas lojas da liberdade ou mesmo nos animês japoneses (que utilizaram algumas músicas como trilha).

penso no tempo em que a descobri e o quanto me fez companhia sua música. ela falava de solidão e eu achava bonito. o japão é um lugar de solidões bonitas.

. past .

olho no rosto dos meus amigos já há tanto afastados. contextualizá-los em meus novos sentimentos me soa cansativo e tolo. cada um encarna com alguma precisão todas as paixões que já foram minhas. muito provavelmente já estão falando outras línguas e acessando outras contas. ah, sim, os livros que trocamos. um pequeno contrato de lembrança. mas verificamos que nossa suposição foi falha. os livros nos dilaceraram. não há nada de nós em nenhum deles.

mas agora soam tão sinceros essas folhas? por quê?

olho nos olhos dos meus amigos afastados. percebo nas dobras da retina o sinal dos anos. sim, pensei em visitá-los, manter contato. para quê? melhor é guardar o melhor de cada um. como será receber uma rajada de ventania quando já se sabe do que a ventania é capaz? o passado espreita, mas na maioria do tempo é apenas alguém que toma o mesmo ônibus, frequenta os mesmos lugares mas a gente nem se considera vizinho.

os meus amigos afastados sempre moraram tão longe de mim.