sexta-feira, agosto 29

agnes

agnes tinha olhos brutos. ainda estavam sendo lapidados pelos movimentos do tempo. não pintava os cílios e não desenhava as sobrancelhas. a suave irregularidade a fazia pender para a esquerda com expressão de escárnio. sim, houve quem se apaixonara por agnes, mas ela era como seus olhos.

viveu desamores até seus 30 anos. cansada, saiu de casa e começou a caminhar para o norte. nunca mais se soube dela até que uma nota de jornal chamou atenção da antiga vizinha. dizia que uma mulher foi encontrada no meio do sertão, totalmente muda e louca. levaram-na a casas de saúde mental e sempre conseguia fugir depois de roubar pinças, tesouras e maquiagem.

foi alvejada por engano quando um policial confundiu uma das tesouras roubadas com alguma arma. faleceu dias depois no hospital. foi encontrada arrumando as sobrancelhas e os olhos, numa tentativa de fazê-los compreensivos.

terça-feira, agosto 26

. trauma .

a dificuldade de superar um trauma é quando ela é condicionado a um terror.

do amor #03

se a ana fosse um balão, seria um zeppelin.

do amor #02

o amor sem ser o cometa.
mas sua calda, resultado de atrito e gasto.

do amor #01

procuramo-nos nos fatos,
pessoas, objetos e significados alheios.
como se o mundo nos fizesse parte e função.
amamos a fim de completar,
amamos a fim de que nos completem.

e se começássemos a procurar o outro?
o que seria da procura de quem nos ama?
e se procurássemos não o amor,
mas a ação de amar?

quinta-feira, agosto 21

. all i have to say .



Videoclipe que dirige para a cantora Olivia. Não saiu como queria, mas está bem bacana.

segunda-feira, agosto 18

bricolantes

abri um blog para resenhas, críticas e coisas mais sérias(?). visitem:

http://www.bricolantes.blogspot.com

domingo, agosto 17

casamento

ontem me casaria com uma bailarina.
hoje com uma cantora.
amanhã com uma dentista.

sábado, agosto 16

eclipse lunar

o que é a lua quando eclipse senão pequena paixão estelar com aviso prévio para acabar?

o amor que move o sol e as outras estrelas

ali, tão perto.

quinta-feira, agosto 14

pães envelhecidos

a minha avó sempre desconfiou das farinhas de roscas industrializadas. lembro-me de sacos com pães envelhecidos sobre a geladeira alta e agora penso: como uma pessoa tão pequena os manteve lá longe das pessoas também pequenas?

ela

fiquei alguns minutos observando seus olhos. como se moviam segundo estompidos de pressão de ar. perdiam-se, voltavam. uma piscada e vascilavam. eu estava tentando compreender uma dor das coisas que não deram certo para ela. arqueou as sobrancelhas, voltou a caminhar até se perder no horizonte.

lembro-me desta imagem observando um horizonte diferente em um outro momento na natureza dos horizontes. penso nela, mas só a silhueta arqueada. na minha cabeça, não sei se ela vai se desfazendo em horizonte ou se o horizonte era ela.

terça-feira, agosto 5

metáfora

ao ver aquele mar todo avançando com suas forças e espumas, pensei se era possível mesmo que pudesse o espírito humano ser tão poderoso e cheio de furia quanto. não só o mar, aliás. comecei a pensar nos globos escolares e tentar dimensionar o quanto dessa minha visão era preciso multiplicar para ter noção real da quantidade.

depois virei-me a areia. havia poucas pessoas, mas comecei a me lembrar dos meus amigos, dos amigos deles, das pessoas que não são meus amigos mas gostaria que fossem, de todas as pessoas que amei e que agora amam outras.

transformei-me em gota. e pude estar em todos os oceanos e em todas as pessoas. diluído e esquecido mas com as propriedades próprias dos liquidos.

segunda-feira, agosto 4

. mother .

havia um bebê muito sorridente tentando se equilibrar em um banco do parque. ao lado, a mãe, moça muito jovem, lia uma revista sobre as estrelas da tevê e era a parede para que não pendesse a direita. mas a esquerda havia toda uma liberdade feita de ar.

um cachorro vira-latas ameaçou comunicar-se com o bebê o qual foi reprimido pela jovem mãe com sons guturais. o bebê ficou em um primeiro momento frustrado, mas perdeu-se ao ver o enxame de pássaros que voaram de uma árvore para atrás de um prédio. neste virar de cabeça, o sol laranja de fim o cegou por um instante. e ele sorriu por causa das cosquinhas de calor.

a mãe percebeu que o bebê tirou o peso de sua perna e imediatamente tentou acudi-lo para que não tombasse. quando percebeu que não era preciso viu o sorriso contagiante do bebê e ela também sentiu o calor laranja do sol.

o bebê voltou-se a mãe para avisar sobre aquela coisa que acabara de descobrir. achou que havia ensinado algo a mãe. achou que poderia ser mãe também.

sexta-feira, agosto 1

conversa fiada

- ele vai te abandonar.
ela ficou quieta e surpresa.
- todos eles te abandonam.
- não, sou eu quem os abandona.
- não, são eles que te abandonam.
- como sabe?
- pelo modo com que você encara o abandono: se voltando.

3 fatorial

as pessoas querem o amor para a toda vida.
o amor quer uma vida para toda pessoa.
a vida quer a pessoa para todo amor.