quinta-feira, julho 30

rocinante

virou-se para mim, tirou uma sujeira da minha bochecha e disse:

-- você é um dom quixote, embora você insista em ser meu sancho pança.

domingo, julho 26

landscape dreams

na fotografia que vejo, não sei o que seus olhos focam para além do que vejo.
e nesta região imprecisa, construo um espelho cheio de angulos,
tentando refazer o corte que o fotografama fez linguagem.

continuo vendo a foto procurando algo que deixei passar.
e me conveço aos poucos e com certa melancolia
que deixei passar você.

terça-feira, julho 21

:: pequenos prazeres

Um copo d'água gelada antes de sentar na parte que mais gosto do sofá, bem ao lado da janela, e cobrir os pés com a manta amarela para ler as correspondências. Antes ainda, um cheque para deixar na portaria amanhã pela manhã. Amanhã é dia de receber a cesta de orgânicos pela primeira vez e ando ansiosa com as comprinhas. Alfaces, tomatinhos, iogurtes assim e assado, frutas e legumes e afins lá do Caminho da Roça.

E então, no meio das contas, tinha uma carta dele. Ele sempre foi a favor das cartas. Das cartas escritas à mão. Um envelope maior do que o normal, também escrito à mão, como se, dentro daquilo, viesse ele. E foi mais ou menos assim. No envelope, "Mariana Blues". Mais de uma vez eu senti que o que eu mais queria era um livro dele para a minha cabeceira. E, de repente, chegou. E então, vou deitar mais calma, com a luz do abajur sobre as páginas de seu primeiro livro. As poesias e as prosas que eu li e reli tantas vezes e tive vontade de grifar.

Mais um copo d'água gelada, escova de dentes, pijama de inverno, mochila fechada e eu vou lá para o mundo dele para entender melhor o meu. Boa noite, durma bem e obrigada pelo presente. Antes de adormecer, vou apoiar suas páginas ao lado dos livros de Clarice, que insisto em deixar bem próximos ao travesseiro da esquerda."

LuFec

thanks, lu!

domingo, julho 19

esquecer

existe uma versão do verbo esquecer que minimiza o verbo lembrar. age próximo ao seguir a diante e soa como deixar para trás.

porque esquecer requer algo além de um compreensão imprecisa.
requer um não conhecimento.
requer um deixar reconhecer.

alguém disse uma vez que havia uma doença que fazia o esquecimento nas pessoas.
e um outro alguém que avisou que esquecer podia ser uma espécie de cura.

talvez sejam só pessoas tentando viver as coisas lembradas.

sexta-feira, julho 10

. mariana blues .

os livros chegaram. já estou enviando. por favor, avisem recebimento.

segunda-feira, julho 6

nina simone

ontem ela me ligou chamando para sair. deduzi que estava só novamente. em sua cabeça, ela tem delineado muito bem o mundo dos acompanhados e dos desacompanhados. normalmente essas duas raças não se falam, só quando decidem entre eles mudar de lado.

muitas vezes paramos em algum lugar e procuramos nos mp3 alguma música da nina simone para dividirmos o fone de ouvido. ela me diz que a nina simone ela só ouve comigo e mais ninguém. achei bonito, mas meio sem sentido.

ontem lhe disse que já ouvi nina simone com outras pessoas. acho que ela ficou magoada. talvez achasse que a nina era algo que tinha de comum entre nós. mas nina simone está além de nós, comentei. ela deve destroçar mais corações além do nosso. deve ser uma missão divina dela.

passei o dia hoje tentando me convencer que talvez tenha sido insensível em não ter algo comum a ela, como ela tinha a nina simone comigo. mas daqui a pouco ela volta para as terras-médias e volta a ser acompanhada.

é bacana ouvir a nina simone acompanhado.

domingo, julho 5

. contador .

é que as histórias deixam a vida mais suportável.

sábado, julho 4

. control .

são dias sem sentido assim que o coração desacelera
e as criaturas adormecidas em mim
resmungam e querem deixar de ser.