sexta-feira, agosto 29

agnes

agnes tinha olhos brutos. ainda estavam sendo lapidados pelos movimentos do tempo. não pintava os cílios e não desenhava as sobrancelhas. a suave irregularidade a fazia pender para a esquerda com expressão de escárnio. sim, houve quem se apaixonara por agnes, mas ela era como seus olhos.

viveu desamores até seus 30 anos. cansada, saiu de casa e começou a caminhar para o norte. nunca mais se soube dela até que uma nota de jornal chamou atenção da antiga vizinha. dizia que uma mulher foi encontrada no meio do sertão, totalmente muda e louca. levaram-na a casas de saúde mental e sempre conseguia fugir depois de roubar pinças, tesouras e maquiagem.

foi alvejada por engano quando um policial confundiu uma das tesouras roubadas com alguma arma. faleceu dias depois no hospital. foi encontrada arrumando as sobrancelhas e os olhos, numa tentativa de fazê-los compreensivos.

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