sábado, fevereiro 23

. discurso de outono .

não que não a amasse. ao contrário, amo-a de forma singular. só não poderia ficar com ela como um casal. por quê? pelo simples motivo de que ela não me ama. aliás, ela ama outro. se é casado, um fantasma ou apenas alguém que não lhe corresponde nada muda o fato de que aos seus olhos sou apenas alguém que a luz não atravessa. não enxergará além.

sim, sim. a história possui exemplos de casais que não se amavam; ou que cabia a apenas um a particularidade do amor. não são tão comuns quanto os casais que se amavam ou que buscavam a realização. há na natureza do casal a felicidade mútua. é das invenções mais generosas, não concorda?

não me incomoda o fato da não-correspondência. esta falta já me levou o que podia. já levou o amor demais do qual me orgulhava e me deixou o amor possível a quem acompanho. às vezes, tento fazer ciúmes a ela com meu amor possível, em vão. também não me importo com seus amores demais.

um amor demais pode transformar a não-correspondência? já me peguei várias vezes pensando nisso. se é possível provocar o calor com calor alheio. houve uma época que eu acreditava que a concepção do amor não possuia qualquer relação com as coisas humanas; quase uma divindade ignorante possível.

mas os amores foram esvanecendo. no começo, eu acreditava que a lembrança era a prova da eternidade do amor; mas a memória também se esvai.

eu amo assim: a mercê do tempo. desta forma, ela me atravessa sua angustia por não me amar me envelhece e troco a elasticidade pelo possível.

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