neusa não era baiana, mas desfilava na ala de sua escola. nos domingos, dessalgava a carne e cortava o toucinho, mas o tempero deixava para outras a feijoada de quadra.
era pelas mãos de neusa que as cobrachas se aposentavam para ser baianas. a dobra do turbante, a costura dos adereços mínimos, colares, quitutes e temperos básicos.
-- não carregue bandejas. erga as mãos em agradecimento e celebração. depois gire como a ordem natural das coisas. dizia ela às mais novas.
cleide, que acabara de ingressar ao grupo e era a mais bela cabrocha de seu tempo, ao tomar uma repreenda de uma das baianas por querer costurar as franjas de sua antiga vestimenta, foi ter com neusa:
-- dona neusa, a senhora não tem saudades dos tempos de passista?
ela sorriu um pouco e respondeu:
-- cleide, eu nunca fui passista. desde pequena sempre quis ser baiana. a tragédia do carnaval para mim nunca foi a quarta-feira de cinzas. mas nunca caber nestas saias. quando consegui rodar sem que se arrastassem pelo chão, nunca quis mais que parassem.
-- então como consegue dançar com tanta alegria se não sambou como as cabrochas?
-- ah, isso veio com as saias.
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