ao chegar em casa, descobriu que as folhas por trás do pacote com um belo desenho de avião pareciam seda de tão finas e delicadas que eram. raciocinou que eram para baratear o peso em gramas de suas palavras. concordou que era um bom artíficio.
escreveu seis páginas e encontrou dificuldade para que a caneta não borrasse o papel. e quando juntou as três folhas percebeu o quão transparente eram ao ver suas palavras misturando umas às outras.
e assim suas outras cartas se tornaram enigmas para montar, sobrepondo e refazendo significados. em tempos assumiu desenhos; de ideogramas e finalmente as próprias manchas.
os destinatários divertiam-se e logo promoveram encontros quando descobriram que as cartas entre si também dialogavam.
até que as cartas começaram a ficar rarefeitas. as letras, mais fracas. as manchas tomaram conta.
no outono, o clube das cartas diáfanas se reuniu uma última vez e decifrou a seguinte mensagem:
"descobri o abismo entre a saudade e a falta. vai além das palavras voltar e partir. mas repousa na transparência destas correspondências".
o clube agora procura por suas cartas em resposta.
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