quinta-feira, maio 8

o baixo swingado de gardênia love . parte 1

acabei entrando numa dessas casas indies pelo preço da cerveja. depois da meia-noite os botecos viram abóbora e fecham para esconder suas vergonhas e o que sobra são esses lugares cheios de gente jovem com lápis no olho, piercing, pegação e cabelo lambido. não necessariamente nesta ordem.

já fiquei puto por 2 motivos: 1. tive que pagar na entrada por uma cerveja que ainda nem tinha visto e 2. a modernidade inventou as lojas de conviniência e criou a desmemória da correria do dia-a-dia.

fiquei ali sentado saboreando a salgada cerveja com uns amendoins roubados de uma outra mesa. e percebi um murmurinho em um pequeno elevado que depois percebi ser um palco. tentei apressar-me com a cerveja e os amendois, mas não consegui por 2 motivos: 1. a cerveja não era tão salgada vide que o canhoto dizia que eram 2 e a segunda não tardou a chegar e 2. o consumo exagerado de amendoin em tal velocidade eleva minha pressão o que faz sangrar as minhas narinas.

quando o show começou, eu já ia me dirigir com a segunda cerveja e os amendois de uma segunda mesa para uma terceira mesa quando o som tosco do lugar me pegou. entre aquelas guitarras distorcidas, aquela bateria que não se ouvia mas se sugeria e uma voz que eu não sabia se era homem ou mulher, entre aquele monte de sons sinistros havia um som grave e delicioso: o baixo swingado de gardênia love.

não me importei mais com toda aquela gente. nem com a indiferença das pessoas quanto a banda e da banda com a baixista escondida lá trás quase perto do banheiro masculino. fiquei ouvindo aquela pegada cheio de flea e que soltava uns slaps logo repreendidos pelo resto da banda.

pedi outra cerveja e fiz questão de pagar por outros amendois. a apresentação durou meia hora e ninguém pediu bis. enquanto o resto da banda era cumprimentado pelos poucos ouvintes fãs parentes da banda, gardênia love guardava seu baixo em seu case e foi até o bar onde já havia um copinho de tequila bordado com sal a espera.

depois, ela foi embora. na semana seguinte, voltei ao lugar para ver se haveria nova apresentação da banda. os garçons me disseram que a banda se disfizera, mas que a baixista já estaria ensaiando com uma outra.

-- aquela ali é o cú, mas curte tocar. devem estar ensaiando e logo mais estão aqui.

perguntei como ele tinha tanta certeza de voltaria a tocar ali. ele compreendeu que me referia ao swing de gardênia e a possibilidade dela montar uma banda com outro gênero que não o da casa.

-- a tequila.

-- por quê?

-- por 2 motivos. 1 . é fabricação própria e 2 . o sal é do mar morto.

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