domingo, março 8

vida e morte de romana

romana nasceu menor do que poderia ser. mas mesmo assim era uma dobermann e já era temida. quando pequena, brincava com seu dono e tinha apetite moderado. tanto que não comia com desespero, mas aos poucos e com serenidade.

durante a noite, algum rato comeu parte de sua ração enquanto ela dormia e deixou um presente no dia seguinte. romana adoeceu. seu dono a levou a um veterinário que lhe receitou um tratamento longo e dolorido, com injeções dia sim e dia não.

tão pequena, não acharam que sobreviveira. ao final do tratamento, estava fraca mas recuperando.

esta foi o segundo nascimento de romana.

nove anos depois, já cega, romana adoeceu novamente. tinha infecções nas patas e o ouvido saindo pus. enfraquecia-se a cada dia. foram há muitos veterinários, até aquele que lhe salvara a vida, mas nada.

um amigo de seu dono, então, ofereceu para sacrificá-la. não aguentavam vê-la sofrendo. ela tinha 63 anos caninos.

colocaram-na no porta-malas do carro e procuraram por um terreno baldio. dirigiram a noite inteira e só conseguiram parar em um plantão veterinário para que administrassem a morte via injeção.

o veterinário ofereceu algumas estadias de internação a cachorra e combinou-se que se ela ficasse boa, somente seria pago o tempo que ela ficou internada. senão, a injeção seria por conta. o veterinário ainda pediu um remédio vendido em farmacia, remédio de gente, que ele comprou prontamente.

uma semana depois, o dono foi vê-la já com lembranças fotográficas em sua cabeça. talvez tivesse chorado antes, para não precisar fazê-lo na clínica. mas tal foi sua surpresa ao ver romana em pé e respondendo aos seus sons e cheiros.

era o terceiro nascimento de romana. ele a levou para casa e conviveram mais 5 anos.

um noite quente e abafada, ela soltou um uivo forte e tenso. ninguém na casa percebeu, além de seu dono. no dia seguinte, foi chamá-la e não respondeu.

romana viveu 98 anos caninos. nasceu 3 vezes e pode sentir a ofegação de seu dono por duas vezes. sentiu saudades durante uma semana e deixou outras tantas para seu dono.

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