sábado, junho 21

3 Janelas de Eduardo Galeano

Janela sobre as proibições

Na parede um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar.
Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem.
Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.

Janela sobre a chegada

O filho de Pilar e Daniel Wainberg foi batizado à beira-mar. E no batizado, ensinaram a ele que é sagrado.
Recebeu caracol.
- Para que aprenda a amar a água.
Abriram a gaiola de um pássaro preso:
- Para que você aprenda a amar o ar.
Deram a ele uma flor de gerânio:
- Para que você aprenda a amar a terra.
E deram também uma garrafinha tampada:
- Não abra nunca, nunca. Para aprender a amar o mistério.

Janela sobre o castigo

Era Natal, e um senhor suíço havia dado um relógio suíço de presente ao seu filho suiço.
O menino desmontou o relógio em cima de sua cama. E estava brincando com os ponteiros, com a mola, com o vidro, a corda e as outras engrenagens quando o pai descobriu e deu-lhe uma tremenda surra.
Até então, Nicola Rouan e seu irmão haviam sido inimigos. A partir daquele Natal, o primeiro Natal do qual ela se lembra, os dois foram amigos para sempre. Naquele dia, Nicole soube que ela também seria castigada, ao longo de seus anos, porque em vez de perguntar as horas aos relógios do mundo, perguntaria a eles como são por dentro.

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