fui com ela até seu apartamento para pegar um blusa. fazia frio na cidade. o porteiro vivia no primeiro andar, o quarto reservado aos porteiros que ficava no térreo estava sempre vazio. perguntei a ela se tinham planos para o uso daquele espaço porque o problema de espaço era bastante visível entre caixas, galões vazios de água e jornais velhos.
ela me disse que lá morou um grande homem que foi esquecido pela história e ficou recluso até sua morte. uma mulher que tem uma doença de memória pediu para que deixassem assim e está pagando o aluguel do apartamento do primeiro andar para o porteiro atual.
a mulher conheceu o homem e sua grandeza, respeitou sua privacidade e lhe fez alguma companhia. ela me disse que a mulher que sofria de desmemória usava a presença daquele vazio para exercitar as lembranças. dizia que tinha medo de esquecer a bondade.
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